Poesias |
ILHA
INTEIRO O SOL De frente pro sol, Desvendo a vida. Depende a sorte, Desprender-se de cada ferida. De fronte pro leste, O cabra da peste sempre persiste. De pé, à boreste, Não deixa que o vento o arraste, Se enverga, se empertiga. No meio do agreste, não se avexa, Se mexe, remexe, Se ajeita, se estica. No colo da noite, do lado da foice, debaixo da ponte, Se aconchega, se amiga. A porta se abre pra aquele que bate. O fogo amolece o ferro, na fornalha. A fala do sábio está nos lábios de quem cala. O céu é o limite pra todo aquele que o escala. CALMARIA Meu coração palpita, Minh’alma se agita, Minha pele arrepia, Meu andar paralisa Meu olhar, quase sempre, desvia Pra não mostrar a clara sintonia, A fragilidade que permeia e guia A emoção do amor, nos primeiros dias. Uma dúvida renitente, sempre persiste: Será ilusão ou delírio, Premonição ou destino, Realidade ou euforia? Será, finalmente, o tempo da calmaria?!
UM ARCO-ÍRIS NO MAR Tento encontrar o seu rastro, Na luz da lua cheia, Que brilha faceira, Por entre as ondas do mar. Tento levar o meu barco, Na direção desses marcos, Nesse lume que se esgueira, Ao horizonte que aponta, Sem ter aonde fitar. Tento aprumar o meu rumo, Na busca de um porto seguro, Que sei estar a me aguardar. Tento avistar-te por um segundo, No meio de tudo, Que está ao meu redor. Só que estou num oceano, bem profundo, Náufraga, no fim do mundo, a te esperar. Resgate-me deste passeio, Pois fostes o artífice desse devaneio, Que se superpôs, em mim, sem me consultar. Imputo-lhe essa providência, Afeta-lhe essa competência, por me cativar. Não declines de presenciar, entre o sol e a chuva, Um arco-íris que se nos pronunciará!
SUN SET I’ve been loosing my breath, I’ve been changing the taste of my mouth. I’ve been dreaming with your face, I’ve been squeezing my chest, everytime the sun set in the nightfall. Please, don’t let me this way. I’m sure, for god sake, The wind is conspiring with us. Nature is blowing our love.
A ROCHA Aquela rocha... Tão firme e inerte, Tão indiferente e omissa. É como me sinto, Quando te avisto. Feito uma paralisia Que me acomete E embota todos os meus sentidos, Diante do desconcertante que se precipita. A sua lisura me comove! Serei eu merecedora de tanta mesura?! Tudo que sonhei se pronuncia na sua figura. Tudo que esperei, a vida inteira, resolvido. É nessa força que me apego. É nessa firmeza que me espelho. E espero, sinceramente, que as suas mãos sintam O aveludado limo que adorna Toda pedra, E, pacientemente, se forma, Ao conservar seu prumo. Distinto Para mim, um homem verdadeiro Vê uma mulher como a sua companheira, A quem dará a mão, no suspiro derradeiro E lhe dará o colo, a sua sombra, o seu espelho. Que respire o seu fôlego, que alise a sua pele. Que, jamais, nunca a abandone... Que lhe dê o seu sobrenome, que se curve aos seus apelos. - Será que ainda existe esse distinto cavalheiro?
CORAÇÃO ANSIOSO Coração a míngua, Coração partido, Coração sem dono. Coração acanhado, amuado, manhoso. Coração apertado, livre, maneiroso. Coração alvejado por um preciso dardo: Um outro coração ansioso.
The Mirrors of My Mind Where are You? Why did you disappear? I am looking for hearing your voice in my ears. How is everything? What are you doing now? How it would be grand to hold you in my arms. How it would be wonder to see you beyond the mirrors of my mind. How it feels me so lonely to be far from your heart. What’s going on? Don’t leave me alone. Don’t leave me alone! Let me take care of you kindly.
Eta, nós! Estamos no meio de um engradado de almas. Na ponta da foice, as mãos de alguns, duramente calejadas, Pelas madrugadas, os bóias frias, nas curvas sinuosas das estradas, Das boléias descem os sonhos, morro acima, morro abaixo... Num país do agro-negócio, das ceifadeiras, dos latifundiários, O valor do homem se mede na cotação das comodities. O matuto nem sequer desconfia que o preço do seu dia, É menor que o pingo do suor, que escorre em sua face. Quando nós, os letrados, instruídos, envergonharmo-nos De tamanha indiferença, no trato aos nossos pares, Com a hipocrisia de ouvirmos todos os dias, O noticiário do milagre das nossas superavitárias safras. É tempo de alimento! É tempo de bio-energia! É tempo de meio-ambiente! É tempo de orgia! Das elites, dos eleitos, aos desvalidos, aos celeiros – Precisamos de um grito, urge-se um pleito: Ao homem do campo, o seu quinhão de respeito! Eta, mundo; eta, roda moinho; Eta, debulho de milho; eta, queijo no qualho! Etanol! Eta, nós, nos trópicos! Ao sabor do vento dos canaviais!
ALTAS HORAS Já se vão altas as horas. Passaram-se as esperanças, Retiro-me agora. Saio de cena com uma triste trilha sonora. Mas bela, por ser sincera, sempre: verdadeira. Quantos, em sã consciência, podem se olhar além do espelho E ver um lindo enredo, mesmo que ilusório? Quem ainda consegue perceber Alguém que te faça por merecer, Sem julgar as aparências? Qual o personagem que se rende A um melancólico happy end, Sem aquela mão que o acalente? Escravos os que perecem na busca do prazer. Felizes os que padecem da fome do saber. Sábios os que saciam a sede de viver.
CORAÇÃO ALHEIO Amo-te, sim, sem pena. Arrisco-me cotidianamente. Jogo-me, assim, cegamente, Como num trapézio, com uma venda, Na certeza de ser amparada em sua rede. Fico noites e noites solitárias, A espera de um telefonema, Um clamor, um simples aceno, um chamado... Inúmeros poemas. Até quando meu peito se conformará Em não reverberar As batidas de um coração alheio?
NA SUA PRESENÇA A beleza se pronuncia, Na natureza que se anuncia, Com as suas múltiplas facetas. Nas glaciais geleiras, Nas tórridas areias, Das paisagens desérticas. No verde das videiras, Nos abismos das falésias, Dos mares do nordeste. Mas no meu íntimo se esmera Na busca de águas serenas E planícies de trigais dourados; De noites de lua cheia, Com ares amigáveis, Uma brisa que assobia minha pele. Um chalé, nos Alpes; uma lareira; Um sapé, de folha de bananeira. Por onde tu estejas, A premissa de tudo: Na sua presença.
DECLARAÇÃO DE AMOR A luz do sol me alumiou, A sombra da lua se espraiou, No brilho dos olhos que se derramou, por ti. A sua presença se esparramou, Num leve deslize que me entregou, No largo sorriso que se deflagrou, em mim. Aquele pequeno nó se desembaraçou No peito de um possante trovador, Que logo, uma notável nota entoou: Um dó de jeito avassalador! O cântico dos Deuses se esboçou. Um suspiro de esplendor! Enfim... Uma declaração de amor!
Weekend In this rainy and lonely weekend I miss you. In my dreams I kiss you. Why such kind of wishes? Shall I insist them?! Your definitive absence shows me: You are distant or You are fighting against What you don’t want admit - We are falling in love Why do we resist it?!
NO BAR Quantos bêbados sóbrios, Tantos poetas atrozes, Quantos solidários a postos, Tantos carinhos sem dono. Tantos infiéis triunfantes, Tantos suspiros arfantes, Tanto as mulheres, quanto os homens, numa penumbra deslumbrante! Quanta palavra ao vento, Tanta polêmica, quanto argumento... Mas nada disfarça o lamento, do amanhã, sem o parceiro. O que queremos nós, Senão, tão somente?! Um fiel e ardente companheiro.
Escrevo-te esta missiva para dizer-lhe o quanto me és precioso, O quanto desperta em mim um sentimento curioso, Que, ultimamente, já não mais o pressentia. O que o carteiro representou um dia, O email substituiu-o, por inteiro: Em cada janela, uma lânguida procura, Anseio por ver seu amor em minha tela... Podemos colorir essa expectativa, Com pincéis e um arco-íris esplendoroso. Que ironia! A alta tecnologia, quem diria?! Servindo aos nossos sonhos, seculares, de outrora...
A LUA Hoje, a lua nasceu em mim, Quando o sol se escondeu, enfim, Com a sua ausência. Logo o sono me abriga, assim E os sonhos, contigo, aqui, me acalentam. Sinto cheiro de jasmim, Um jardim de rosas a conduzir A uma linda cena: Uma carruagem a nos servir, Um paraíso a nos reluzir, Com os seus emblemas. Será demais alguém se nutrir, Da perseverança que teima em insistir, Na simplicidade de uma felicidade plena?!
Ter-te Canto um remanso em meu peito. Peço um recanto em seu leito. Passo pelo canto, tento um jeito, De ter-te por pouco tempo, Mas, sempre pronto, eleito. Por um pernoite, que seja! Um pulo afoito, desejo! Procuro-te em todos os becos, Fecho o cerco, Mas foges..., Com a destreza de um cervo. Por que o esmero em esconder-te? Do que foges intencionalmente? Que espelhos podes desencantar? Que labirintos temes desencadear? Que semblante receias esboçar, Ao despojar-se plenamente? Qual é o problema? Ver-te, finalmente?!
A SUA ALQUIMIA Penso em ti, quero-te, aqui, comigo. Sei que precisas de mim. Sinto um aperto, Sigo-te de perto, No meu pensamento. Por que teimas em fugir? Por que tentas resistir aos meus apelos? O que achas que vai encobrir? Porque tudo que está por vir só tem um dilema: Só me resta descobrir a sua alquimia... Amo-te perdidamente!
Tergiversar Tento fingir um sentimento, Tergiversar o momento, Tento fugir dessa tormenta, Por não te ter ao meu lado. Temo me escravizar lentamente, Acostumar-me a sua ausência, Olhar o mundo vagamente, Sem o brilho dos enamorados. Como posso seguir adiante, Com esse fardo nos ombros, Se o que me pesa é tão somente A leveza das minhas mãos vazias?! Como posso me ver daqui pra frente, Desencorajada, descrente, Sem a esperança de, dia a dia, Ver-te em mim ancorado?!
O Ancião Nos modos brandos, um ancião. No olhar atento, a águia de plantão. Nas palavras sábias, um exemplar cidadão. Na prosa, um vespertino como tal. A proeza de certas pessoas, Vai além das suas conquistas, Está na maneira como persiste, Em auscultar os corações. Essa é a melhor medida, Para uma longevidade cumprida, Que a nós só nos resta ser seguida, Pelos seus herdeiros de sangue, de fé e de emoção.
POENTE Feito o sol agonizante, Que se esconde atrás do monte, Minha alma no poente, Sábia hora de ir embora. Desfaço-me dos meus segredos; Despojo-me dos meus desejos. Vejo outros horizontes, cruzo os dedos! Peço que me protejam... Que me tirem da memória os seus olhares; Que me tragam outros belos personagens, De um novo hemisfério.
OLHOS NEGROS O Grito Avalanche NOTA PROMISSÓRIA
CEGOS
A BOLA
SOLIDÃO Finados
ALMAS GÊMEAS Pas de Deux
Duas faces, duas partes. E assim levamos nós. TÍMPANOS Primatas
Eu já fui poeta
SEM NEXO VOLÚPIA VIRTUAL MOEMA Moema dos cabelos pretos, Dos olhos castanhos, Dos lábios sedentos. Morena de temperamentos, De sonhos contidos, De modos incandescentes. Gestos ensandecidos, Coração inatingível, Mas, a alma, condolência. Permita-me a sua companhia, De poder servir-te de guia, Entretê-la. De soprar-te lindas melodias, Exaltar-te todos os dias da minha existência.
Que o enlace dos nossos
caminhos Penitência de uma vida inteira!
EU AMO A VIDA Eu amo a vida! Cada ida e vinda, Nessa escada do dia a dia, Que nos ensina, nos surpreende, nos instiga. Em que um por um de nós se rende, as suas ironias, E nos torna cativos reféns daquilo que chamamos destino... Sem permissividade, sem pedir passagem, sem prévio aviso. Eu amo a lida! Nesse enorme turbilhão, Desse rolo compressor, De múltiplas esquinas. De lágrimas e torpor, De sangue e suor, De enigmáticas magias. Quero ser um mago, Adivinhar cada passo Dos meus próximos capítulos. Quero me revestir de coragem ao me travestir de covarde por reconhecer meus erros. Que os pequenos deslizes sejam os breves desacertos de grandes êxitos. Que os céus me velem. Que os anjos me acolham... Que seja leve.
CTI Padeço de um mal sem cura, A saudade me tortura, A culpa me assola, Por não ter-te acalentado até o fim; Por não atender aos seus apelos da CTI: Que clamaram pelo meu nome, A todo instante, E eu, distante, não te ouvi. Você, que me pegou no colo, Que me acolheu, no seu ombro, Inúmeras tardes, para o meu consolo; Que derramou muito do seu suor e lágrimas,Do parto, ao longo de toda a trajetória, Construindo a minha, ao bordar a sua estória, Numa doação maternal e infinda; Foi-se embora... Sem o meu pranto, Sem nenhum alento, sem acalanto, Sem uma mão amiga por perto, Como se tudo se esfumaçasse E uma nuvem te envolvesse e te levasse, Como se nada mais importasse, Num usurpar dos nossos laços... Que maldito agouro! Que frieza perversa, Dos que deveriam estar em alerta E não estavam... Para evitar esse trágico desenlace. Ainda era cedo... Mas o juízo final será implacável! Abomináveis esses seres impávidos, Com seus jalecos brancos, impecáveis E de gestos tão escurecidos. Um dia, há de ser chegada a hora, De cada um dos que dessa mácula protagonizaram E sentirão a dor que nada remedia: E nem todo o sangue de uma hemorragia, Que, dia a dia presenciam, será pouco, Face a náusea de ver a sua progenitora, Num leito, ir-se, pouco a pouco, Perante a indignidade dos que ali deveriam Honrar um juramento prometido, Que não cumpriram... E extirparem o bem mais valioso, A vida! E se verão, igualmente, privados Do convívio... Do afago, de um olhar, do toque, do aconchego, Da sua melhor e mais altiva aliada, Sem presenciarem o último suspiro.
DESCONCERTANTE Tenho saudades do que não vivi; Tenho vontade de ti. Tento tirar-te do meu intento; Quanto mais penso, mais peno: O pesar das horas que passam, Sem as pegadas dos teus passos, Ao meu alcance, Com o percalço do passo a passo, De uma vida, num compasso entediante. Pois só tu poderias Aquecer, dia após dia, Esse meu coração hesitante. E trazer um fôlego revigorado A minh’ alma, até então, naufragada, Ancorando-a em solo firme e desconcertante.
A MINHA MÃE Tanto tempo sombrio, tanta dor, quanto tormento, Onde o amor era tão denso! Quanto contra-senso! Tantas conquistas, tantas vitórias, Quanta coragem, tanta galhardia! Sem medida, sem prumo, nem guarida, Num rumo tão desconhecido, Duas almas... Tão próximas e tão díspares, Tão nobres e erguidas, Se quebram; Numa queda abismal, Como dois anjos caídos, Com a saída súbita e sem aviso, de uma delas... Para um paraíso perdido, Que somente a ela é merecido. Pois, só um coração tão singelo, puro e magnânimo Pôde aturar, ileso, as infâmias, Desse tortuoso mundo. E preservar-se, como um bicho panda, Nas longínquas montanhas, tão mais próximas... Do altar em que sua aura repousa, Num descanso merecido.
CHEIO DE TI Um fio de esperança, Uma sutil lembrança, Me faz refletir. Um sorriso de criança, Uma prece franciscana, Me faz reagir. Uma paz samaritana, Uma ordem anglicana, Invade a minha retina: Quero a normalidade, A natural simplicidade, De um dia, cheio de ti.
POETA INVERTEBRADO Romeiro d’alma. Tropeiro sem tropa, Trapaceando o destino vago, Vagueando os prados, de horizontes apagados. Pastor de si mesmo, Caçador de sonhos, irrealizados. Presa no deserto, Ceifeiro de cumes inalcançáveis. Passageiro do mundo, Que tem em seu rumo, O universo decantado. Escravo dos desejos, Marinheiro de mares infindáveis. Pregador de lábios serrados,
Um poeta invertebrado. A SORTE Morfina Estou anestesiada. Olho para o nada, o nada me olha. Nado para o lado, não vejo o mar. Olho para o fundo, vejo o lodo em mim. Penso em ti; num segundo, já te esqueci. Fixo o olho no crucifixo... Sinto uma hemorragia a me consumir. Olho para o olhar do santo, Vejo nele o desencanto que vislumbra o meu porvir. Peço aos meus sonhos: - não me abandonem! Preciso amarrá-los aqui. Muitas ondas a sacudir. Uma bóia a me acudir! Um candeeiro a reluzir! – Morfina! Mais uma ampola! Sedem-me, deixem-me rir! |